Review: Assassin's Creed: Odyssey

Review: Assassin’s Creed: Odyssey

Assassin’s Creed Odyssey é, sem dúvidas, o melhor game da série já feito. Com um vasto mundo a ser explorado, escolhas que impactam na história, gameplay remodelado e, até mesmo, a inédita seleção do sexo do protagonista, o título da Ubisoft traz uma épica jornada à Grécia antiga ao colocar o jogador na pele de um (ou uma) mercenário espartano. Com a opção de áudio e legendas em português do Brasil, o game já está disponível para PS4, Xbox One e PC.

A série de assassinos versus templários sempre foi conhecida por seus altos e baixos ao longo dos anos. Após alguns jogos mornos como, Assassin’s Creed III (2012) e Unity (2014), passados nas revoluções norte-americana e francesa – respectivamente, a Ubisoft encontrou sua redenção diante dos fãs – antes órfãos desde a trilogia Ezio Auditore – com Black Flag (2013), e suas incríveis batalhas navais, e mais recentemente com a viagem ao antigo Egito, em Origins (2017).

Odyssey, desenvolvido ao longo de três anos, veio para coroar todo o aprendizado com os deslizes do passado e agregar tudo o que a franquia acumulou de melhor: muita ação, exploração, diferentes formas de gameplay, belos visuais, customização de armas e armaduras, aliados para matar ou morrer ao seu lado, narrativa bem construída e, sim, batalhas navais. Mas também houve espaço para inovar, com uma jogabilidade menos automática – dando mais liberdade ao jogador -, combos de habilidade, opções de diálogo, a escolha do sexo do protagonista e até mesmo romance.

Uma viagem à Grécia antiga

Não há como falar da história de fundo em Assassin’s Creed Odyssey sem remeter ao próprio contexto histórico das civilizações antigas. Mas vamos tentar simplificar as coisas, indo por partes.

Primeiramente, um significado simplificado para odisséia seria algo como uma longa viagem, marcada por reviravoltas, conquistas e perigos. A origem da palavra, no entanto, remete à Grécia antiga e ao lendário herói grego “Odysseus”, rei de Ítaca, que também foi conhecido como Ulixes (Ulisses). “Odisséia” é, justamente, um poema do século IX a.C, que conta as aventuras de Ulisses.

Com isso, nota-se que a escolha do nome foi o primeiro acerto da Ubisoft neste game. É também neste período de guerras, mitos e filosofia, que prosperou a cidade-Estado de Esparta, reconhecida até hoje como uma das maiores potências militares da história da humanidade.

Esparta foi a principal inimiga da cidade de Atenas durante a Guerra do Peloponeso (de 431 a 404 a.C), que ocorreu na região que hoje compõe a maior parte da Turquia. Os espartanos foram vitoriosos, mas a grandes custos. E esta guerra é o pano de fundo onde você controla Alexios ou Kassandra.

“This is Sparta!”

Já com o contexto histórico explicado, vamos ao protagonista. Antes mesmo do game te dar a opção de escolher seu personagem, você assume logo de cara o controle de ninguém menos que Leônidas, o mais famoso rei e general espartano.

Lembra do filme 300, inspirado nos quadrinhos de Frank Miller? Então, você começa a jogar no meio do caos da épica Batalha das Termópilas, onde apenas 300 espartanos – liderados por Leônidas – enfrentaram o exército persa com mais de 30 mil soldados. Nesse prólogo, você tem o gostinho de experimentar todos os combos e habilidades destravadas e reproduzir o famoso chute, no estômago dos inimigos, ao bom estilo “This is Sparta!”.

Mas não se empolgue tanto, pois o que vem a seguir é, novamente, a parte mais chata de todos os jogos da série: o “mundo real” fora da Animus. Sim, ainda é necessário passar por essa quebra de narrativa terrível e lidar com os eventos da Abstergo, caçando os Assassinos de hoje. Layla Hassan retorna, após debutar em Origins, e é ela quem “comanda” as ações do protagonista. Ao voltar à Animus, você finalmente poderá escolher o sexo do personagem principal. A justificativa do jogo para isso é a existência de dois códigos genéticos disponíveis em uma lança, que a Assassina acredita ter pertencido ao próprio Leônidas.

Mercenário espartano e escolhas definitivas

Jogar com Alexios ou Kassandra não muda em nada o gameplay. Ambos possuem as mesmas habilidades, mesmas armas e armaduras à disposição, além da mesma capacidade de dano, defesa e corrida. A única coisa que, às vezes, pode ser um pouco diferente são algumas opções de diálogo, mas nada que vá impactar no rumo da história. A dublagem em português do Brasil não ficou ruim e é protagonizada por Raphael Rossato (Alexios), que dublou Peter Quill, em “Guardiões da Galáxia”, e Letícia Quinto (Kassandra), que já deu voz à Saori Kido, no anime “Cavaleiros do Zodíaco”.

Há três grandes e interligados arcos de histórias que envolvem Alexios ou Kassandra, e o primeiro deles você já se depara bem no início. O protagonista parte numa missão para tentar reunir sua família, após os trágicos eventos ocorridos na infância do mercenário. Mais à frente, ainda no arco principal, o herói descobre a existência de um culto que quer matá-lo a qualquer custo (por motivos de spoiler não darei detalhes). E, por fim, como estamos falando de Assassin’s Creed, novamente você será levado a eventos relacionados à linhagem da Primeira Civilização. É neste arco que o protagonista finalmente descobre a verdade sobre sua origem.

Além das missões principais, o jogo está repleto de missões secundárias, sinalizadas por um ponto de exclamação no mapa (que é enorme) ou em contratos de mercenário, que podem ser aceitos em murais ou estátuas espalhados por vilas e cidades. Há muito o que se fazer em Odyssey e renderia um outro artigo só para falar disso, mas vamos tentar resumir por enquanto.

O principal ponto que você deve ter extrema atenção neste game é o peso das suas escolhas. Elas podem e vão impactar no mundo a sua volta, para o bem ou para o mal, e de forma permanente. Lembra daquelas decisões difíceis em jogos da série Mass Effect, Dragon Age e The Witcher 3? É algo parecido que terá à disposição. Às vezes, ao fazer o bem, salvando uma família de ser assassinada por conta de um doença, você pode ser o responsável, mesmo que indireto, por um surto epidêmico que vai matar uma região inteira.

Outra questão interessante sobre os diálogos é que agora, pela primeira vez na franquia, você poderá optar em ter algum romance com alguém. É só flertar com a pessoa quando aparecer um coração antes de alguma resposta (se isso estiver disponível). Tanto Alexios quanto Kassandra podem se relacionar com homens e mulheres. É bom ressaltar que, por mais que o desfecho dessa paquera possa ser sexual, nada é explícito como em Mass Effect, por exemplo. Uma pena.

Gameplay renovado e batalhas navais

Uma das novidades em Odyssey é a escolha inicial entre dois estilos de jogo: modo exploração e modo guiado. No modo exploração, recomendado pelos desenvolvedores para uma melhor experiência, o jogador terá que descobrir regiões, pessoas, objetivos e missões por conta própria. O máximo de auxílio geográfico que terá são algumas orientações do tipo: a vila fica a oeste de um lago profundo, próximo a estátua de Zeus, por exemplo. Com isso, é você que precisa seguir as pistas para encontrar o que (ou quem) precisar. Já o modo guiado é a forma tradicional de se jogar Assassin’s Creed, com todas as marcações de missões e objetivos no mapa e na tela do jogo.

Já os controles evoluíram um pouco mais em relação a Origins. Dois novos menus radiais ficam aparentes na tela, quando o herói está em modo de combate. Neste menu é possível criar atalhos para habilidades especiais (compradas com pontos de experiência) que podem ser ativadas, após carregadas ao atacar inimigos. Uma dessas habilidades especiais é o famoso chute espartano na barriga. Também é possível habilitar especiais para cura e mais precisão ao usar armas brancas e arcos.

Por falar em pontos de experiência, você terá à disposição três árvores de habilidades diferentes para investir: Caçador (com uma pegada mais de exploração e sobrevivência), Guerreiro (melhor controle de combate corpo a corpo e resistência a danos), e Assassino (amplia o dano de ataques furtivos e melhora a destreza).

Tanto as suas armas, quanto armaduras, navio e tripulação podem ser melhorados com matérias-primas e ouro. Inclusive, o “grinding” do game, ou seja, a execução de tarefas repetitivas para obter alguma vantagem, é absurdamente alto e cansativo. Se em Origins, para melhorar seu equipamento, você já passava horas cortando lenha, catando pedras e caçando animais, por exemplo, lembre-se que agora você precisa fazer upgrades em todo um navio de guerra também. Um facilitador para esta odisséia da paciência pode ser comprar na loja do game, com dinheiro real, boosts de experiência e recursos.

Particularmente, não sou muito a favor do “pay to win”, ou “pagar para vencer” (em tradução livre). O ideal seria o jogo te oferecer uma forma menos massante de obter recursos primários. Assim, o jogador poderia focar seus esforços no que realmente importa: a experiência do personagem, sua história e batalhas. Por falar na loja, é possível comprar itens cosméticos também, que são apenas visuais e não impactam no gameplay.

Como falamos de navios de guerra, as batalhas navais voltaram de forma mais ativa. Assim como era em Black Flag, você pode navegar quando quiser e entrar em conflito com outros navios, para exercer seu domínio e saquear seus tesouros. Quanto mais equipado belicamente e reforçado estruturalmente sua embarcação estiver (insira o grinding absurdo aqui), e com a tripulação mais bem preparada, maiores serão suas chances de ser o grande conquistador dos mares. A lógica é até bem simples, a execução é que demanda muita paciência.

O gameplay no navio é, sem dúvidas, uma das melhores partes do jogo. O visual é lindo, a tripulação canta, e até mesmo seu protagonista vibra quando a embarcação pega uma rajada de vento favorável. Não é a toa que a Ubisoft lançará um game solo só focando nisso, com Skull & Bones.

Seus atos também geram consequências

Obter recursos e ouro, vasculhando baús e caixas por vilas, fortes e cidades está mais complicado agora. Não que haja algum impedimento em saquear as riquezas das residências ou lojas alheias, mas se alguém te pegar roubando algum item (marcado em vermelho) você terá problemas com a guarda local e terá seu nível de procurado aumentado. Isso é outra coisa interessante neste título. A ideia é muito parecida com o que sempre existiu em jogos da série Grand Theft Auto.

Conforme você gera caos em um local, você ganha uma estrela de procurado. Em Odyssey, ao invés da estrela é um elmo. Quanto maior seu nível de procurado, mais forte será o caçador de recompensas no seu rastro. Para se livrar dele você tem duas opções: caçá-lo de volta e matá-lo (se conseguir), ou pagar a ele o quanto ofereceram pela sua cabeça.

Diferentemente de Origins, agora é possível ver o perfil dos algozes que estão atrás de você. A guia “Mercenários”, no menu de pausa, traz a localidade do caçador de recompensas, pontos fortes, fraquezas e o nível que ele está. Algo bem parecido já foi visto antes em games, como Sombras de Mordor e Sombras da Guerra, por exemplo.

Esparta versus Atenas: você escolhe por quem lutar

No final do capítulo 2 e início do capítulo 3, e já de posse do seu navio, seu herói se encontrará em meio a um campo de batalha dividido entre o exército espartano e ateniense. Em princípio e, até mesmo a título de aprendizagem, você irá se aliar aos espartanos para conquistar uma região controlada por Atenas.

Antes de iniciar o conflito final entre as duas forças, você precisa enfraquecer a influência local do adversário de algumas formas, como: matar soldados inimigos, queimar suas reservas de comida e armamentos, pilhar seus tesouros, conquistar fortes e, finalmente, matar seu líder. Lembrando que, como você é um mercenário, você pode tanto se aliar a um lado ou outro. No mapa do mundo, as terras com domínio de Esparta têm limites pintados em vermelho, enquanto as dominadas por Atenas tem limites azuis.

Vale lembrar que lutar ao lado dos invasores é mais difícil, mas dá recompensas melhores. Lutar ao lado de quem está defendendo sua posição é mais fácil e com maiores chances de vitória, mas os prêmios são menores.

Lindo de se ver

Segundo a própria Ubisoft, este é o mundo mais rico, extenso e diversificado já criado na série Assassin’s Creed, e não é para menos. Por vezes, você vai se pegar parado em alguma montanha, apenas observando o anoitecer, ou nadando no fundo do mar observando corais, ruínas de embarcações afundadas, peixes e tubarões (não se esqueça de matá-los). O modo fotografia, que já virou recurso presente em quase todos os games atuais, ajuda a tirar melhor proveito do visual.

Além do cenário, a animação das expressões dos personagens melhorou bastante (quem não lembra o show de horrores que foram os bugs faciais em Unity?). Alexios ou Kassandra são os protagonistas mais carismáticos da série, desde o famoso Ezio Auditore. Não chegam ainda a ter o charme de Geralt de Rivia, em The Witcher 3, mas o trabalho está muito bem feito.

Conclusão

Dentre todos os altos e baixos da franquia ao longo dos anos, Odyssey veio para reunir o que há de melhor em gameplay e ainda coube espaço para inovar. No fundo, até parece um jogo de uma série nova e, por vezes, temos que lembrar que ainda estamos jogando um Assassin’s Creed e não algum game de RPG de ação com temática espartana. Ainda assim, acredito que a franquia precisava se reinventar mesmo (desde o fim da trilogia Ezio) para sobreviver. E conseguiram isso muito bem. Desde The Witcher 3 não havia sido lançado um jogo tão vasto e detalhista de se jogar.