Review do último Need For Speed lançado, o Payback
O maior diferencial da franquia Need For Speed com relação a outros games de corrida é o contexto em que se dão as disputas. Enquanto Gran Turismo e Forza contam com competições em um tom mais esportivo, os jogos NFS sempre apostaram no mundo dos rachas de rua e, por muito tempo, foram referência no gênero. Este pano de fundo inspirou outras obras, como série cinematográfica Velozes e Furiosos, então é natural que aconteçam comparações entre as duas franquias. Need for Speed Payback, pelo que indicavam os trailers, de fato abraçaria as semelhanças e ofereceria uma experiência muito semelhante à da história de Dominic Toretto (Vin Diesel) nos filmes.
Prova disso é o modo História, que recebeu destaque em muitos dos vídeos que sucederam o anúncio de Payback. Com base nas prévias, houve quem sentisse que se tratava de um game que iria além do gênero corrida. No entanto, talvez até por causa das expectativas, o resultado final acaba deixando a desejar. Tyler Morgan, Mac e Jess — respectivamente o líder, o alívio cômico e a destemida — são três estereótipos que conduzem um enredo nada autêntico, caracterizado por traições previsíveis, interpretações pouco convincentes e diálogos estranhos.
As missões da campanha tentam criar uma dinâmica semelhante ao que se vê em Grand Theft Auto V, em que é necessário utilizar os três personagens principais e suas diferentes especialidades para avançar. Na teoria a ideia é muito boa e, de fato, seria agradável colocá-la em prática se tudo fosse menos roteirizado. Depois de falhar uma vez ou duas, o jogador entende o padrão de movimentos dos oponentes — e, no caso de perseguições, da polícia — e o desafio proposto vai por água abaixo. Claro que isso pode ser interpretado de maneiras diferentes. Jogadores que só estão procurando uma distração podem se divertir bastante, já que a sensação de êxito não é custosa.
Fora das missões principais, os jogadores podem passar horas explorando o mundo aberto de Payback, que é gigantesco e conta com quatro áreas muito diferentes entre si. Além de Fortune Valley, cidade inspirada em Las Vegas onde começa a história, há regiões montanhosas desérticas, assim como outras com mais natureza. Todas são igualmente belas e a transição entre uma área e outra, gradativa e orgânica, torna a experiência muito mais realista. Dá para sentir que você está passando por locais distintos e não simplesmente enfrentando uma repetição de paisagens com cores diferentes.
Já que a ideia é sempre estar em alta velocidade, o carro vai chocar-se bastante com o de alguns NPCs. Nestes momentos é possível enxergar os rostos dos motoristas por trás do vidro. Após colidir com outros três ou quatro veículos, percebi algo curioso: todos têm a mesma cara e não possuem qualquer tipo de reação com relação ao jogador ou à batida. Eles simplesmente ficam parados, olhando para frente como robôs. Some isso ao fato de que não há pedestres durante o gameplay e percebe-se que, apesar de todas as paisagens, aquele extenso mundo carece de algo importante: vida. Fora das cenas animadas, o universo de NFS Paybcak é composto exclusivamente por carros dirigidos por clones sem qualquer tipo de emoção ou espontaneidade.
Uma exceção para essa regra são os outros corredores que ficam passeando livremente pelo mapa e contra os quais podemos iniciar disputas a qualquer momento, desde que se esteja perto o suficiente. Inclusive, é até possível se dedicar exclusivamente a perseguir esses motoristas e derrotá-los um por um. Justamente por se tratar de algo mais aleatório, esse acaba sendo um dos pontos mais divertidos de Payback. Além destas disputas, o mundo aberto oferece também desafios como os dos radares de velocidade, nos quais você precisa passar o mais rápido possível para ganhar pontos de reputação, e os de destruir os outdoors, que requerem saltos radicais a partir de pontos elevados do mapa.
Tunar o carro é um dos aspectos mais interessantes e pessoais de qualquer jogo de corrida. Ao longo da franquia Need For Speed, já dedicamos muito tempo na busca do motor ideal ou da cor de carro que mais tem a ver com a nossa personalidade. Payback, no entanto, falha no aspecto em que a franquia mais acertou desde seu surgimento nos anos 1990. Em vez de selecionar diferentes tipos de freio, escapamento e motor, por exemplo, o jogador simplesmente precisa equipar seu carro com… cartas. É simples assim: essas cartas aumentam ou diminuem as capacidades e o nível do veículo. Quanto mais peças forem de uma mesma marca, melhor. Você só precisa se preocupar com encontrar cartas “mais fortes” e equipá-las no seu veículo (elas não podem ser reutilizadas). Logo, nem faz sentido adquirir tantos veículos assim, já que seria extremamente caro personalizar todos. Escolha três ou quatro de que gosta mais e invista neles.
As alterações visuais também estão mais limitadas em Payback em comparação aos jogos anteriores. Você precisa cumprir uma série de pequenos desafios para desbloquear a opção de editar a aparência de determinadas partes do carro, e isso acaba postergando a diversão de criar algo só seu.
Ainda dentro de um comparativo histórico, a trilha sonora de Payback é variada e mantém o padrão de qualidade dos títulos anteriores. Há muitas faixas de rap, assim como de pop rock dos anos 2000. Importante destacar, inclusive, que “Raplord”, do grupo brasileiro Haikaiss, pode começar a tocar no seu rádio a qualquer momento. Só é uma pena que não seja possível repetir a audição de uma música e pode levar tempo até que ela volte a tocar.
O modo online acaba sendo prejudicado pelo sistema de progressão do game. Como você precisa de cartas para evoluir seu carro e torná-lo mais competitivo, é necessário investir bastante e, portanto, correr por muito tempo. No entanto, as lojas em que são comprados os tais cards contam com estoques limitados que são renovados aleatoriamente após alguns minutos de jogo. Ou seja, por mais que você ganhe dinheiro, precisa torcer para ter no que gastar. Diferentemente do que é típico na série, não existe mais a possibilidade de acumular créditos para comprar alguma peça que se precisa muito na hora que quiser. Tudo depende da sorte. Inclusive, a outra forma de conseguir cartas para seu carro é literalmente girando uma roleta ou recebendo caixas gratuitas com itens aleatórios dentro. Ou seja, por mais que você seja corajoso, não tente competir online se estiver abaixo do nível 300 — e mesmo quando chegar lá, não pense que já está pronto.
Quem deve jogar este game?
Payback não é o mais desafiador dos Need for Speed, portanto pode ser o game ideal para quem gosta de disputar uma corrida descompromissada de vez em quando, ou para jogadores iniciantes que querem aprender mais sobre o gênero. Não há muito realismo nas curvas e o processo de se acostumar com cada veículo não é dos mais demorados. Os circuitos off-road, principalmente, oferecem muita diversão, pois não é necessário ficar dentro da “pista” e o jogador pode encontrar a própria maneira de chegar em primeiro lugar.
O VEREDITO
Pontos positivos e negativos andam de mãos dadas em Need For Speed Payback. Por um lado, a jogabilidade é agradável e simples de se entender e dominar. Por outro, os modos de jogo podem deixar de ser empolgantes cedo demais, e o sistema de progressão parece não ter sido tão bem planejado. O modo História, tal qual o título em si, tinha potencial, mas acaba deixando a desejar. O mundo aberto é gigante e muda bastante de região para região, mas apesar de belas, as paisagens são mortas e os pedestres acabam fazendo falta. Jogar online é fácil para quem está acima do nível 300, mas é extremamente difícil ganhar qualquer disputa estando abaixo disso.
Fonte: IGN
Amante de jogos digitais e estudante de Marketing, criei esse site para compartilhar toda a minha experiencia em games com as novas gerações.